Cheguei há menos de uma semana... partilho as primeiras impressões:
- Não tem savana nem animais grandes, como a África que conheço, mas uma paisagem densa verdejante, que constitui a primeira reserva mundial da Biosfera da UNESCO.
- A cidade de Santo António é bastante pequena, a rotina faz-se a pé tranquilamente, mas os acessos e transportes para fora da cidade são mais complicados. A chuva frequente e a falta de manutenção das estradas dificulta a condução aos tradicionais motoqueiros.
- As pessoas são alegres, puras e de uma hospitalidade imensa. As caras novas saltam à vista facilmente e a curiosidade fala alto para saber o que a "brrranca" (carregam nos "erres" de uma forma muito peculiar) vem para cá fazer.
- Os multibancos só aceitam cartões locais e, à excepção de um ou outro hotel de luxo, as transacções são todas em dinheiro. Numa ilha ainda pouco virada para o turismo, a dupla insularidade faz-se sentir nas mais pequenas coisas, como o tomar um simples expresso, manteiga a 5€ no supermercado, entre outros.
- A comida é muito boa, de forte influência cabo verdiana (como 80% dos habitantes da ilha), embora, contrariamente ao que a fertilidade do solo faz esperar, sem grande variedade de fruta e legumes.
- Há música e festa por todo o lado, sobretudo agora (plena campanha eleitoral).
Foi uma semana rica, atípica, cheia de sensações, percepções e sentimentos para digerir...
Sem pressas, leve-leve, como manda o lema da ilha:)
Contudo, se se quiserem antecipar ou aprofundar a minha escrita, convido-vos a lerem os contos "Fyá Xalela", da magnífica Olinda Beja, que me ofereceu a minha antiga equipa da Sair da Casca. Queria ter lido no verão, antes de vir, mas ainda bem que não o fiz. Exímia contadora de histórias por excelência, a autora envolve-nos a cada página neste legado tão precioso e singular que lança para o mundo. A sua descrição sensorial e realista aproxima qualquer leitor dos personagens, de tal forma que nos apropriamos da história como se fosse a nossa. Consequentemente, recomendo que prolonguem a leitura ao longo dos tempos, não porque a escrita seja pesada, antes pelo contrário, mas para que se possam deixar levar pelo universo criado e relacionar com os personagens apresentados. Os mais curiosos poderão ainda deliciar-se com os sábios tradicionais provérbios, escritos em Lung'Iê (língua da ilha), que antecipam cada conto.