sábado, 19 de janeiro de 2019

Viagem pela ilha grande - parte I

"Ano novo, vida nova", diz o ditado. Todavia, passadas as festividades, é tempo de voltar à secreta "terra do nunca", onde nada parece ter mudado desde que parti.
A passagem por Lisboa foi rápida, inclusive com uma viagem ainda mais intensa e interessante por Londres, mas extremamente revigorante. Contudo, esta correria de imigrante tem o que se lhe diga. Matar saudades da família e amigos, visitar os recentes pais e os que passam o primeiro Natal de coração mais apertado... A agenda era longa e o desafio estava em conciliar disponibilidades e aproveitar o tempo livre de quem sobrevive na azáfama do dia-a-dia.
Por seu lado, o regresso ao golfo equatorial, depois de umas semanas de privilégio europeu, sobretudo após a abundância da época natalícia, torna ainda mais especial este exercício de introspecção e perspectiva. O Natal é, para mim, tempo de família. Custar-me-ia bastante, se não tivesse possibilidade de ir a casa nesta altura - sobretudo no primeiro Natal sem a matriarcal avó Mimi -, mas confesso ter alguma curiosidade acerca do Natal no calor e praia, que me contam os meus alunos e amigos da terra.
Na volta, aproveitei a paragem obrigatória em São Tomé para uma pequena exploração do Sul e Centro da ilha grande deste arquipélago. Os passeios pelo centro da capital, particularmente comprar o que quer que seja no mercado, revela-se uma verdadeira experiência sociológica, pelos dialectos que se sobrepõem, pela flutuação de preços e pelas  tentativas para captar a atenção dos visitantes. A aceleração da cidade dilui-se na imensidão da baía Ana Chaves, acompanhada pela longa marginal circundante. Como não poderia deixar de ser, as iguarias gastronómicas surpreendem a cada esquina - da barriga de andala (espadarte) da Tia Léu, no parque popular, e Papafigo ao sumo de sape-sape do Xico's e limonada ou sumo de maracujá do Jasmim, junto à Casa da Cultura, sem esquecer a degustação na fábrica de chocolate de Cláudio Corallo, que apenas desilude por um lapso publicitário. Anunciam visita à fábrica e degustação quando na realidade fazem uma explicação do processo de colheita e processamento do cacau - magnífica exposição, porém sem entrada na fábrica propriamente dita. Não nos demorámos muito na cidade, pelo que não tivemos oportunidade de exibir os desengonçados passos de kizomba no Pirata (discoteca local), explorando antes a vida nocturna no Pico Mocambo, assim como a "gravaninha" de sua especialidade - cocktail de rum aromatizado, à base de cana de açúcar, preparado com gelo e lima, que rouba o nome à pequena estação seca do ano. 
A partir da cidade, cerca de 15 minutos para o interior, encontramos a Trindade e, mais adiante, a roça Monte Café, a Casa Museu Almada Negreiros - casa onde nasceu o artista e, hoje, se pode provar uma interessante degustação gastronómica de produtos locais -  e a imponente cascata de São Nicolau, que não tive oportunidade de conhecer devido às chuvas.
Seguimos para Sul, para descanso e relaxe antes de voltar ao trabalho. A estrada é longa e bastante acidentada, pelo que demorámos cerca de três horas até Porto Alegre. Na primeira metade do caminho, cruzamos Santana e a zona dos surfistas, roça Água Izé, Bombaim e São João de Angolares - onde poderá valer a pena dormir e, sem sombra de dúvida, reservar almoço do chef João Carlos Dias. Em direcção ao Sul, encontramos a alegre vila piscatória de Ribeira Afonso, mesmo à beira da estrada. Era dia de festa na comunidade - que pena já termos almocado!... Passando o ilhéu das Rolas, no qual se localiza o marco do Equador, chegamos à zona das mais bonitas praias da ilha - Piscina, Inhame e Jalé - e resorts para um pleno retiro espiritual e desova de tartarugas, como a de Couro - ou Ambulância, como lhes chamam por cá -, cujo rasto mostro na imagem.
Já tenho saudades do Príncipe, mas deixo a ilha grande com pena e promessa de voltar, na Páscoa ou no final do ano lectivo. Daí o nome da publicação. 
Até já! Leve, leve.