Sou uma pessoa de família! Família de sangue, família de vida. Contrariamente a muitos da minha geração - apesar da paixão por viagens, culturas e novas experiências -, emigrar nunca foi para mim uma opção. Ou melhor, o trabalho comunitário e intervenção social fez-me algumas ponderar, e até candidatar-me, a projectos internacionais. Mas de curto/médio prazo. Muita disposição de ir, desde que com garantia e data próxima de regresso a Portugal. Mas nunca encontrei algo que me pudesse dar a experiência internacional temporariamente, garantindo-me continuidade no regresso a "casa", no sentido lato - desprendida de bens materiais, mas não da minha vida, das minhas pessoas. Também nunca me imaginei a fechar a cada, deixar "tudo" e partir num recomeço. Felizmente as prioridades mudam e pude, ao longo deste ano, dedicar-me a este sonho. Contudo, por um motivo ou por outro, as saudades não tardaram em bater à porta:
1. Apesar das novas amizades e do conforto e aproximação da tecnologia, faltam muitas vezes os "suspeitos do costume", os partners in crime, os habitués da vida;
2. Acompanhar acontecimentos dos que nos são queridos à distância aperta-me ainda mais o coração, sobretudo nos momentos de dor e prova;
3. A fragilidade de uma doença mais forte fez-me sentir, pela primeira vez, falta do conforto e mimo de "casa".
Por tudo isto e mais, foi maravilhoso o privilégio de receber os meus pais, primos e amigos e poder partilhar um pouco desta experiência transformadora com todos e cada um deles. A uma semana cheia e relaxante com os pais, contracenaram dois dias relâmpago e intensos com os primos e amigos. Um miminho bom, uma lufada de ar fresco, uma força inesperada, foram absolutamente revigorantes estes momentos.
Apresentar a ilha quase na primeira pessoa - às vezes num excesso de entusiasmo quase exasperante para quem vem de férias -, receber um bocadinho do meu mundo aqui também e sentir o calor e amizade com que os acolhem. Quase que se zangavam comigo por não visitarmos suas casas.
Surpreendentemente, ao grupo de primos e amigos juntaram-se a Dina, uma moncó - designação dada às pessoas naturais do Príncipe. Que riqueza testemunhar o seu reencontro com primos e amigos que não via há mais de 20 anos. A Dina começou por ir uns anos para São Tomé, de onde, há 18 anos, ela e o marido rumaram para Portugal, à procura de uma vida melhor, deixando para trás 3 filhos. Todos os anos, em janeiro, o marido voltava para ver a família, mas Dina não acreditava ser capaz de os deixar outra vez, permanecendo sempre em Portugal. Uns anos mais tarde, uma filha foi para Portugal, depois um filho, ficando apenas uma em São Tomé, que se juntou coincidentemente aos restantes há 4 meses. Trabalhando para a família dos amigos do meu primo Francisco há 15 anos, rapidamente a convenceram a juntar-se nesta viagem de regresso à sua terra, mesmo depois de conseguir reunir a família novamente em terras lusas. Foi tão bom de ver a sua alegria, como de ouvir as suas recordações e lembranças de um Príncipe já tão antigo e distante.