Mais um dia no mar, ainda mais desafiante que o anterior. O destino foram as Tinhosas - ilhas rochosas, a 22 km a Sudoeste do Príncipe, consideradas a mais importante zona de nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné - e a partida tinha sido agendada para as 5h30, que a logística era ainda complexa.
Onze pessoas, incluindo duas visitantes; cinquenta pães, atum, marmelada, fiambre, bolachas, sumos e água; cinco câmaras de vigilância, para estudar o comportamento das aves e dos pescadores que frequentam as ilhas, e mais uns quantos acessórios para o trabalho de campo da equipa.
Saíamos já um dia depois do previsto, devido a questões climatéricas. O temporal de 6ª feira obrigara o comandante Vavá a adiar a expedição para o dia seguinte. Encontrámos-nos no escritório da Fundação Príncipe Trust - agora apenas Fundação Príncipe -; carregámos o carro e saímos, com mais de meia hora de atraso, em direcção à Sundy Praia, de onde o barco do hotel de cinco estrelas nos levou ao destino. Felizmente, o mar estava agradavelmente calmo, reduzindo o tempo da travessia de duas horas para uma e meia, com um incrível nascer-do-sol sobre o Príncipe.
O território é composto por duas ilhas - Tinhosa Grande, que se estende por vinte hectares, e Tinhosa Pequena, de apenas três - ambas habitadas por quatro espécies de aves. A saber: Caié-branco, Caié-preto, Paiê e Pato-marinho.
O objetivo da visita era a monitorização dos pássaros e, assim, após o "mata-bicho" - designação local para o pequeno-almoço -, dividimos-nos em dois grupos e demos início às contagens. Na ilha grande, marcámos várias quadrículas de 100 m², em zonas planas, semi-inclinadas e inclinadas, nas quais contabilizámos ovos, crias bebés e fêmeas no ninho. A partir da amostragem, a contagem final será depois extrapolada para a totalidade dos 22 hectares da ilha. No caso do Pato-marinho, espécie mais ameaçada, o exercício é mais preciso, percorrendo a ilha toda para a contagem em rigor, sem amostragem. Esta é também a única espécie contabilizada na Tinhosa Pequena, que é efectuada pela equipa - a olho nu ou com a ajuda de binóculos - a partir do barco, devido à pequena dimensão da ilha.
O desembarque foi um pouco assustador pela quantidade de aves a voar em todas as direcções, mas, no final do dia, a experiência foi fantástica! Confesso ter aceite o desafio por curiosidade em conhecer os ilhéus e pelo passeio de barco, que tanto gosto. Não esperava, contudo, participar no trabalho da equipa de Conservação Terrestre. Não fazia ideia do que a equipa ia fazer, nem tão pouco esperava aguentar tantas horas numa ilha repleta de aves. Foi uma bela e agradável surpresa, mesmo com a grande chuvada que nos alcançou e me fez abrigar no recanto de uma rocha.