sábado, 23 de fevereiro de 2019

Do não-birdwatch à birdlife

Mais um dia no mar, ainda mais desafiante que o anterior. O destino foram as Tinhosas - ilhas rochosas, a 22 km a Sudoeste do Príncipe, consideradas a mais importante zona de nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné - e a partida tinha sido agendada para as 5h30, que a logística era ainda complexa. 
Onze pessoas, incluindo duas visitantes; cinquenta pães, atum, marmelada, fiambre, bolachas, sumos e água; cinco câmaras de vigilância, para estudar o comportamento das aves e dos pescadores que frequentam as ilhas, e mais uns quantos acessórios para o trabalho de campo da equipa.
Saíamos já um dia depois do previsto, devido a questões climatéricas. O temporal de 6ª feira obrigara o comandante Vavá a adiar a expedição para o dia seguinte. Encontrámos-nos no escritório da Fundação Príncipe Trust - agora apenas Fundação Príncipe -; carregámos o carro e saímos, com mais de meia hora de atraso, em direcção à Sundy Praia, de onde o barco do hotel de cinco estrelas nos levou ao destino. Felizmente, o mar estava agradavelmente calmo, reduzindo o tempo da travessia de duas horas para uma e meia, com um incrível nascer-do-sol sobre o Príncipe.
O território é composto por duas ilhas - Tinhosa Grande, que se estende por vinte hectares, e Tinhosa Pequena, de apenas três - ambas habitadas por quatro espécies de aves. A saber: Caié-branco, Caié-preto, Paiê e Pato-marinho. 
O objetivo da visita era a monitorização dos pássaros e, assim, após o "mata-bicho" - designação local para o pequeno-almoço -, dividimos-nos em dois grupos e demos início às contagens. Na ilha grande, marcámos várias quadrículas de 100 m², em zonas planas, semi-inclinadas e inclinadas, nas quais contabilizámos ovos, crias bebés e fêmeas no ninho. A partir da amostragem, a contagem final será depois extrapolada para a totalidade dos 22 hectares da ilha. No caso do Pato-marinho, espécie mais ameaçada, o exercício é mais preciso, percorrendo a ilha toda para a contagem em rigor, sem amostragem. Esta é também a única espécie contabilizada na Tinhosa Pequena, que é efectuada pela equipa - a olho nu ou com a ajuda de binóculos - a partir do barco, devido à pequena dimensão da ilha. 
O desembarque foi um pouco assustador pela quantidade de aves a voar em todas as direcções, mas, no final do dia, a experiência foi fantástica! Confesso ter aceite o desafio por curiosidade em conhecer os ilhéus e pelo passeio de barco, que tanto gosto. Não esperava, contudo, participar no trabalho da equipa de Conservação Terrestre. Não fazia ideia do que a equipa ia fazer, nem tão pouco esperava aguentar tantas horas numa ilha repleta de aves. Foi uma bela e agradável surpresa, mesmo com a grande chuvada que nos alcançou e me fez abrigar no recanto de uma rocha.
Dever cumprido, fui a única a banhar-me nas águas do Atlântico antes de regressar. Agora, deixo-vos com as imagens destas magníficas espécies, que se refugiam nestes ilhéus isolados para procriar ao ritmo de coelhos.


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Discovery shots and action 🎬🎥

Ontem foi dia de sair para o mar com o Guillermo e a equipa marinha. Foi tempo de conhecer o seu trabalho de investigação para potencial definição de Área Marinha Protegida. Guillermo, Bizantino, Lindo e Zélinho, na fotografia, embarcaram no que seria o último dia de amostragem do BRUV (Baited Remote Underwater Video) - uma metodologia não invasiva que permite registar a presença, abundância e comportamento de espécies predadoras de peixes. 
Saída marcada para as 6h30. Cinco câmaras GoPro, com os devidos acessórios e apetrechos, desenhados com a perícia própria de engenheiro, 3 kg de peixe e farnel para a equipa. Antecipava-se um longo e duro dia pela frente, milhas consideráveis a percorrer, para gravar os nove restantes pontos. Saímos da baía de Santo António, pelas águas cristalinas do Atlântico - surpreendentemente calmas para o costume - e navegámos em direcção ao Sul. Passámos Pontamina, Abade, Nova Estrela, Terreiro Velho, a praia Abelha e a cascata "Oquê Pipi". Entrámos em território ainda desconhecido para mim e a equipa começou a arranjar o peixe e preparar o isco. Aproximámos-nos do Boné do Jóquei - ou Ihéu Caroço -, dobrámos a Ponta Café e a Praia Grande do Infante, onde deixámos o Lindo, guarda marinho, no seu dever de monitorização das tartarugas. Estávamos, então, na principal zona de recolha dos dados em falta, onde largámos as cinco câmaras da primeira ronda das filmagens, entre Pico Negro, Portinho e Boné. Era já tempo para almoçar. Aproveitando os 90 minutos de gravação, subimos ligeiramente, para que o barco não interfisse com a circulação dos peixes. E abrigámos-nos da chuva, que entretanto nos alcançara, num longo e quente banho de mar.
O dia já ia alto quando recolhemos as câmaras e, por isso, o regresso foi também mais célere. O Lindo reembarcou, trazendo coco fresco para todos. Abriram os cocos com leves pancadas de um pau - como é que fazem isto!? - e gozámos o final da tarde numa animada e rica conversa sobre os costumes locais e as perspectivas futuras. 
Desde abril do ano passado, o Guillermo gravou mais de 280 horas de vídeo em 28 dias de trabalho de campo, captando imagens de mais de 95 espécies diferentes, incluindo tubarões, raias e polvos, que podem ver abaixo. Durante os próximos meses, continuará a analisar os vídeos para perceber a distribuição de espécies de peixes ao redor da ilha, de modo a identificar áreas prioritárias para a conservação e a gestão das pescas.
Bom trabalho, rapazes, e o meu muito obrigada pelo dia, ensinamentos e partilha.