quinta-feira, 28 de março de 2019

Assertividade e Empatia | Desafios da Comunicação

Desde pequenos que aprendemos a comunicar, mesmo antes de aprendermos as primeiras palavras. Comunicamos com o corpo, expressões, olhar e postura. E, com o passar do tempo, presos na linguagem ou falta dela, esquecemos-nos muitas vezes deste aspecto. Sobretudo os mais emotivos e impetuosos, como eu. Ao longo da minha vida - não só, mas sobretudo por motivos profissionais - fui desenvolvendo melhor este campo. Da gestão de equipas à assessoria de imprensa, da comunicação interna à corporativa. Os desafios foram surgindo e fui aprendendo a comunicar mais e melhor com diferentes públicos e em diferentes contextos. Nunca fui de meias medidas, mas nem sempre escolhi os momentos ou palavras mais inteligentes para cada momento. O que dizer, como me comportar, tudo se foi aperfeiçoando e melhorando com a experiência e a idade. Hoje, mais do que nunca, acredito que poemos dizer qualquer coisa a quem quer que seja, desde que o saibamos fazer adequadamente.
Apaixonada pela vida, movo-me por pessoas. Adoro conhecer diferentes contextos e culturas. Fascina-me - e, por vezes, também, desespera-me - o comportamento humano. Em mais esta experiência, pessoal e profissional, tive de me adaptar, de aprender a comportar-me, de compreender as normas e organização social, tão distantes da realidade em que cresci. Como qualquer outro processo de adaptação - minha à ilha e da ilha a mim -, algumas consegui aceitar e integrar para meu benefício, outras nem tanto, partilhando a minha visão e influenciando um pouco aqueles com quem me vou cruzando.
Já falei das crianças e do desafio que foi conquistar a sua atenção e introduzi-los num modelo de aprendizagem diferente do que estão acostumados. Creio também já ter falado do desafio geral na relação com os stakeholders, ao nível de compromissos, prazos e responsabilidades. Mas não ficamos por aqui... Eis senão quando me surge mais uma prova nesta odisseia: dar formação aos técnicos da Fundação. Um pequeno apoio em noções básicas de informática a quem deixa o mar para se estrear nesta tecnologia, logo conduziu a uma formação de Excel para outros colegas mais avançados. Aceitei, claro está, ambos os projectos. Além da resposta automática que tenho definida por natureza para os pedidos que me dirigem, era a melhor alternativa possível para o efeito. Não sendo formadora nem especialista na área, reúnia os recursos necessários - conhecimentos, disponibilidade e vontade. E, por isso, assim foi. Após umas pesquisas rápidas, criei um pequeno programa para cada um dos casos propostos, para depois adaptar às necessidades profissionais de cada um.
Já fora do contexto e idade escolar, em muito se assemelham aos alunos do clube, pelo comportamentos, como a irreflexão na resposta e a sensibilidade na interacção com o formador. De alguma forma, até talvez mais acentuado e de desafio acrescido na formação de adultos. Pontualidade e concentração, sobretudo. Telemóveis, conversas paralelas, as distracções são mais que muitas para estas crianças grandes. Mas claro, não posso nem devo generalizar. Na verdade, muitas das suas dificuldades parecem-me advir do ainda débil sistema educativo. Faltam métodos de estudo - e consequentemente de trabalho -, a capacidade de abstracção escasseia, muitas vezes até a objectividade. Em poucas horas de formação, faço o possível para lhes incutir algumas boas práticas, que considero poderem ajudar o seu dia-a-dia. O que e onde anotar; planear uma tarefa, dia ou semana; estruturar as ideias e fazer um esquema em papel antes de iniciar um trabalho, mesmo no computador. 
A maior dificuldade é sem dúvida a linguagem. Embora falemos a mesma língua, nem sempre conseguimos chegar ao outro ou nos sabemos fazer entender. Diariamente, continuo a aprender a comunicar melhor e adequadamente a cada um. 
Obrigada, Fundação Príncipe, por mais este desafio!

sábado, 23 de março de 2019

Proteção das Tartatugas Marinhas

Já vos apresentei a Fundação Príncipe, ONG local dedicada à conservação da biodiversidade da ilha do Príncipe. De entre os seus vários projectos para protecção da fauna e flora aqui existentes, trabalho mais estreitamente com o Protetuga, de conservação das tartarugas marinhas. Os aparelhos GPS utilizados na monitorização das mesmas pertencem à Arribada, constituindo uma das várias tecnologias em desenvolvimento para a conservação ambiental.
Em São Tomé e Príncipe existem três espécies de tartarugas marinhas: Sada, Mão Branca (tartaruga verde) e Ambulância (tartaruga de couro). Todas ameaçadas, em menor ou maior risco de extinção. Quem o diz é a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que cataloga as espécies de animais e plantas consoante a sua existência na natureza. Mundialmente conhecida como a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, permite sensibilizar a população para a vivência em harmonia com o meio ambiente, orientando boas práticas para a sua sustentabilidade. 
São várias as ameaças conhecidas para uma espécie, que podemos resumir em três principais dimensões: caça ilegal, poluição e extinção do habitat. Nos nossos projectos, centramo-nos naturalmente nas ameaças resultantes da acção humana e que, de uma forma ou de outra, podem contribuir para qualqier uma destas dimensões.
De "não preocupante" a "extinto" são sete os estatutos definidos, rapidamente compreendidos pelo semáforo de cores que os codificam. Por sua vez, o estudo de conservação de uma espécie pode ser relativo, se se referir à sua existência numa determinada zona ou país, ou absoluto, se se referir à sua existência no mundo inteiro, como acontece com espécies endémica de uma região.
Para melhor explicar o conceito de vulnerabilidade, pintamos os diferentes Estatutos de Conservação na parede da sala. No último grau, encontramos o Dôdô e o tigre da Tasmânia, duas espécies já extintas, pintadas sobre a parede. Dessa forma, as crianças compreendem melhor o impacto do nosso comportamento e a influência positiva ou negativa que podemos ter para reverter a situação.
No final, reconhecem algumas das espécies ameaçadas na sua ilha, como sejam o Búzio do Obô, o Papagaio Cinzento ou as tartarugas marinhas: Ambulância (ameaçada), Mão Branca (em perigo) e Sada (em perigo crítico). As crianças são os principais influenciadores e agentes de mudança e, por isso, esperamos contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente e uma ilha mais sustentável.

sábado, 16 de março de 2019

Tetuga kitxi d'iê


Na língua da terra, "Tetuga" significa tartaruga; "d'Iê" quer dizer da ilha; "kitxi" é pequeno ou, melhor dizendo, torna tudo pequeno quando acrescentado a um substantivo. Neste caso, tartaruga bebé. A equipa do Protetuga organizou um campeonato de futebol interescolas pela conservação das tartarugas marinhas.
Nove comunidades, onze escolas, treze equipas, três escalões, cerca de duzentas crianças, mais de vinte voluntários, encontram-se este sábado para um encontro desportivo dos 6 aos 18 anos. 
As carrinhas do Governo e as pickups da Fundação saem cedo para ir buscar as comunidades distantes: Aeroporto, Ponta do Sol, Abade, Nova Estrela, Sundy, Montalegre e São Joaquim. Santo António e Porto Real juntaram-se a pé. À medida que vão chegando os participantes, conferem-se as inscrições e distribuem-se as t-shirts - cada equipa com a sua cor -, "mata-bicho" - duas sandes de fiambre e sumo - e as senhas para o almoço. Prepara-se o campo, dividindo-o em dois campos mais pequenos, que receberão jogos em paralelo; chegam os convidados oficiais e abrem-se finalmente as hostilidades, com uma hora de atraso face ao programa previsto. Eu assumi a responsabilidade de fotógrafa oficial. Garanto, com o apoio da equipa de voluntários, que capto cada uma das equipas escolares e passo o dia numa correria entre os jogos, que afinal se distribuem entres os dois campos improvisados no estádio e o polidesportivo, mesmo ao lado. 
Um excelente dia de envolvimento comunitário, com sol e chuva, onde não poderia faltar o pintado da terra e peixe frito para o almoço. Exaustivo, mas gratificante, apesar da, sempre injusta, decisão final em grandes penalidades. Sempre com alegria, no desporto e pela conservação!



sábado, 9 de março de 2019

Trilateração e geolocalização

O programa do Clube Arribada, de Ciência Computacional e Tecnologias da Conservação, culmina na aplicação prática dos conhecimentos aprendidos com a tecnologia GPS. Analisam a movimentação do Sokis - cão mascote da ilha - em analogia com o trabalho dos biólogos no estudo das tartarugas marinhas. 
É incrível como vou aprendendo ao longo do processo, aplicações tão corriqueiras da minha vida cujo funcionamento nunca questionei. E é esta a partilha que trago hoje, num jeito meio envergonhado e na esperança de que também alguém por aí aprenda algo com isto.
Sabem como funciona o GPS (Global Positioning System)? Por satélites, é verdade. Mas como exatamente?
A trilateração é o princípio matemático que determina a localização de um corpo ou objecto, através da informação transmitida por satélites. Para cobertura total do nosso planeta existem 30 satélites, mas não precisamos de os consultar a todos ao mesmo tempo. Para determinação da localização exacta são necessários três satélites, em que cada um deles emite a distância a que nos encontramos dele - o conjunto de pontos possíveis origina uma circunferência com o raio da distância emitida. 
Assim, quando consultamos um satélite, recebemos um vasto conjunto de localizações possíveis. Ao consultar o segundo satélite, reduzimos para duas localizações - pontos de intercepção das duas circunferências. E na terceira consulta, obtemos a localização exacta, representada pelo ponto intercepção entre os três sinais recebidos.
Na nossa sala, começámos por exemplificar o fenómeno com hula hoops, passando depois à prática com o mapa mundo cartonado sobre esferovite e uma representação física dos respectivos satélites, estudando diferentes trajectos.