Desde pequenos que aprendemos a comunicar, mesmo antes de aprendermos as primeiras palavras. Comunicamos com o corpo, expressões, olhar e postura. E, com o passar do tempo, presos na linguagem ou falta dela, esquecemos-nos muitas vezes deste aspecto. Sobretudo os mais emotivos e impetuosos, como eu. Ao longo da minha vida - não só, mas sobretudo por motivos profissionais - fui desenvolvendo melhor este campo. Da gestão de equipas à assessoria de imprensa, da comunicação interna à corporativa. Os desafios foram surgindo e fui aprendendo a comunicar mais e melhor com diferentes públicos e em diferentes contextos. Nunca fui de meias medidas, mas nem sempre escolhi os momentos ou palavras mais inteligentes para cada momento. O que dizer, como me comportar, tudo se foi aperfeiçoando e melhorando com a experiência e a idade. Hoje, mais do que nunca, acredito que poemos dizer qualquer coisa a quem quer que seja, desde que o saibamos fazer adequadamente.
Apaixonada pela vida, movo-me por pessoas. Adoro conhecer diferentes contextos e culturas. Fascina-me - e, por vezes, também, desespera-me - o comportamento humano. Em mais esta experiência, pessoal e profissional, tive de me adaptar, de aprender a comportar-me, de compreender as normas e organização social, tão distantes da realidade em que cresci. Como qualquer outro processo de adaptação - minha à ilha e da ilha a mim -, algumas consegui aceitar e integrar para meu benefício, outras nem tanto, partilhando a minha visão e influenciando um pouco aqueles com quem me vou cruzando.
Já falei das crianças e do desafio que foi conquistar a sua atenção e introduzi-los num modelo de aprendizagem diferente do que estão acostumados. Creio também já ter falado do desafio geral na relação com os stakeholders, ao nível de compromissos, prazos e responsabilidades. Mas não ficamos por aqui... Eis senão quando me surge mais uma prova nesta odisseia: dar formação aos técnicos da Fundação. Um pequeno apoio em noções básicas de informática a quem deixa o mar para se estrear nesta tecnologia, logo conduziu a uma formação de Excel para outros colegas mais avançados. Aceitei, claro está, ambos os projectos. Além da resposta automática que tenho definida por natureza para os pedidos que me dirigem, era a melhor alternativa possível para o efeito. Não sendo formadora nem especialista na área, reúnia os recursos necessários - conhecimentos, disponibilidade e vontade. E, por isso, assim foi. Após umas pesquisas rápidas, criei um pequeno programa para cada um dos casos propostos, para depois adaptar às necessidades profissionais de cada um.
Já fora do contexto e idade escolar, em muito se assemelham aos alunos do clube, pelo comportamentos, como a irreflexão na resposta e a sensibilidade na interacção com o formador. De alguma forma, até talvez mais acentuado e de desafio acrescido na formação de adultos. Pontualidade e concentração, sobretudo. Telemóveis, conversas paralelas, as distracções são mais que muitas para estas crianças grandes. Mas claro, não posso nem devo generalizar. Na verdade, muitas das suas dificuldades parecem-me advir do ainda débil sistema educativo. Faltam métodos de estudo - e consequentemente de trabalho -, a capacidade de abstracção escasseia, muitas vezes até a objectividade. Em poucas horas de formação, faço o possível para lhes incutir algumas boas práticas, que considero poderem ajudar o seu dia-a-dia. O que e onde anotar; planear uma tarefa, dia ou semana; estruturar as ideias e fazer um esquema em papel antes de iniciar um trabalho, mesmo no computador.
A maior dificuldade é sem dúvida a linguagem. Embora falemos a mesma língua, nem sempre conseguimos chegar ao outro ou nos sabemos fazer entender. Diariamente, continuo a aprender a comunicar melhor e adequadamente a cada um.
Obrigada, Fundação Príncipe, por mais este desafio!