Um fim-de-semana diferente, com o projecto Bumbu d'Iê pela preservação do ambiente, promovido pela COOPAPIP - Cooperativa de Apicultores da Ilha do Príncipe - e pela Fundação Príncipe Trust. O projecto, cujo nome significa "abelha da ilha" visa promover a apicultura sustentável, que é como quem diz em equilíbrio com a natureza.
Sabiam que antigamente (e, infelizmente, ainda hoje) se queimavam colmeias e o respectivo enxame para produzir mel? Eu, confesso, nunca me tinha questionado sobre o processo de colheita, mas não poderia imaginar tal atrocidade. Atrocidade para com as abelhas, que morrem queimadas, e para connosco, que comemos um mel impuro, com cera e abelhas à mistura. A equipa Bumbum d'Iê tem vindo a formar e capacitar os membros da Cooperativa de Apicultores para que possam desenvolver a sua atividade de forma mais cuidada, saudável e sustentável. Com o seu apoio, espera-se vir a produzir o primeiro mel sustentável da ilha do Príncipe; ou seja, o primeiro mel produzido de forma natural, sem queimar abelhas e colmeias. De que forma? Apanhando e transferindo colmeias para caixas Langstroth, nas quais as abelhas constroem os favos em caixilhos de madeira, facilmente removíveis e, sobretudo, sem prejudicar as abelhas.
Mas voltemos ao sábado... A comunidade da Ponta do Sol era o destino e esperava-nos uma manhã de actividades ambientais para envolvimento com a comunidade na conservação da biodiversidade do Príncipe. O programa indicava a realização de inquéritos sobre o conhecimento geral das abelhas e apicultura; uma ligeira palestra e apresentação do projecto Bumbu d'Iê; um filme animado para os mais pequenos e uma futebolada para os graúdos. Contámos ainda com a grande surpresa e participação especial de Martina Panisi, responsável pelo Forest Giants Project, para conservação do Búzio do Obô.
O búzio gigante - de nome científico Archachatina Bicarinata e também designado localmente por “búzio preto” ou “búzio do mato", pelo habitat onde vive - é uma espécie endémica de São Tomé e Príncipe, bastante apreciada pelas iguarias alimentares preparadas com o animal e pelas propriedades terapêuticas da sua casca. Nos últimos anos, tem-se observado um preocupante declínio da população desta espécie, classificada como "vulnerável" pela Lista Vermelha da IUCN, o mais fraco dos estatutos de espécies ameaçadas, e em risco de se tornar "em perigo".
Foi um dia em pleno, de forte envolvimento com a comunidade, conhecimento das suas práticas e preocupações, de grande partilha de conhecimento e experiências, que não podia terminar de melhor forma, com um magnífico almoço. A pouco e pouco, as comunidades vão-se abrindo e acreditando nos projectos de conservação. Todavia, verifica-se uma grande desconfiança na capacitação local, por exemplo no que respeita à gestão da Cooperativa. Alguns mostram uma preocupação pela falta de transparência dos seus pares, alegando inclusive que é cultural e que a gestão devia ser externa. Não será esse certamente o caminho, pelo que há ainda um longo caminho a percorrer, bastante além da formação técnica e ao nível de relacionamento interpessoal.
Parabéns Fundação Príncipe Trust! Viva Bumbu d'Iê!
Parabéns Fundação Príncipe Trust! Viva Bumbu d'Iê!
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